domingo, 26 de setembro de 2010

Favelas

Marília é uma das cidades com melhor qualidade de vida do interior de São Paulo. Estatisticamente, tem bons índices naquilo que consideramos adequado para a população. Sabemos disso consultando pesquisas de institutos econômicos que publicam seus dados em revistas etc. Minha cidade já teve os slogans “Capital Nacional do Alimento” e “Cidade Amiga da Criança”. Porém, há outras realidades que não aparecem nesse conjunto de dados e, muito menos, no imaginário da população que desconhece (ou quer desconhecer), por exemplo, a presença de favelas por aqui.

Detalhe dos barracos presentes no bairro Argolo Ferrão em Marília, 2003 (Leica e tri-X)


Tive acesso mais profundo a essa realidade quando fotografei alguns bairros da cidade que estavam em processo de degradação sócio-econômica, enfim, em processo de ‘favelamento’ em 2003. Participando de uma pesquisa da UNESP em Sociologia Urbana, fotografei alguns aspectos dessas favelas para montar um mapa de exclusão social em Marília.


Detalhe de um casebre no bairro Vila Barros em Marília, 2003 (Leica e tri-X)

Caminhei junto com alguns pesquisadores que há muito andavam pelas vielas dos bairros Argolo Ferrão, Vila Barros entre outros, conversando com os moradores, investigando as estruturas sociais daqueles locais. Carregava uma Leica e alguns rolos de filme kodak tri-X, registrando um pouco das pessoas e das condições de moradia e da ocupação do ambiente.

Interior de barraco na Vila Barros, 2003 (Leica e tri-X)


Conheci pessoas batalhadoras e que ainda tinham sonhos de vida e esperança de felicidade, apesar de viverem na duríssima realidade de péssimas condições higiênicas, materiais e ambientais. Em alguns cidadãos dava para perceber o brilho nos olhos e a força de verdadeiras fortalezas...

Morador da Vila Barros reaproveitando tijolos velhos, 2003 (Leica e tri-X)

A luz que vinha dos relatos de vida dessas pessoas se confundia com as belas luzes que existiam em alguns barracos enfeitando as simples paredes de madeira e papelão.

Moradora da Vila Barros em Marília, 2003 (Leica e tri-X)


A favela não é só o lugar da criminalidade, da degradação e da miséria, é também o lugar da solidariedade e da família, instituição social que ainda tenta resistir a todos os ataques da exclusão sócio-econômica.

Esgoto 'a céu aberto' em favela de Marília, 2003 (leica e tri-X)

Tentei fazer uma exposição das imagens que fiz em um shopping center de Marília, mas não tive sucesso. Minhas fotos foram retiradas após um abaixo assinado dos logistas que se consideraram prejudicados com a ‘estética da pobreza’. Segundo eles, a exposição não estimularia as visitas e as compras nas lojas...realmente, há setores da sociedade mariliense que querem continuar não conhecendo a ‘cidade dos índios’ que não aparece na revista ‘DMarília’. Isso é compreensível... Marília ainda exclui muita gente.

Moradora de favela que, com uma máquina de escrever, produz currículos para moradores tentarem empregos, 2003 (Leica e tri-X)



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