domingo, 12 de dezembro de 2010

Candomblé 2

      Os 'feitiços' sempre causaram medo naqueles que não conhecem as religiões de origem africana no Brasil. Chamados erroneamente de "magia negra" e de "macumba" (que na verdade quer dizer tambor), os rituais da Umbanda e do Candomblé estigmatizaram negativamente aqueles que os defenderam e os praticaram. Infelizmente é difícil para os cristãos medíocres perceberem o preconceito e o etnocentrismo presentes em posturas como essas. É mais fácil não compreender as outras formas de religião, é mais cômodo a maioria de nós...


Tata Nkassumbirê Ari ensinando 'feitiço' no Centro de Cultura Africana em Marília, 2010 (Nikon D70)

        Quando olhamos mais de perto e com mais paciência, com olhar atento daqueles que respeitam e tem curiosidade com os valores alheios, logo notamos várias semelhanças entre os 'feitiços' e outros rituais das religiões cristãs. Notamos também semelhanças nas maneiras das pessoas se relacionarem com a religião no Candomblé e nas outras formas de religião.


Aluna do Curso de Cultura e Religião Africanas em Marília, 2010 (Nikon D70)

       Os pedidos dos fiéis são os mesmos, as crenças no mesmo grau, a fé inabalável, a relação com as divindades, tudo isso é muito semelhante de uma religião para a outra, não importando muito se você está entre cristãos ou adeptos do candomblé.


Participantes do curso de Cultura Africana em Marília , 2010 (Nikon D70)

       O pedido por sáude, por emprego, por felicidade e por amor. Aliás, quando o assunto foi amor, a atenção dos alunos no Centro de Cultura Africana aumentou. Foi fácil perceber que as necessidades e os desejos das pessoas são os mesmos independente da religião...

Aluna  atenta ao 'feitço' do amor ensinado pelo pai de santo Ari, em Marília , 2010 (Nikon D70)

       Tudo é feito com muito carinho e respeito aos envolvidos, com muita seriedade e fé. O feiço do amor tem rosas, doces, perfumes, frutas etc.


 Adepta preparando os elementos do 'feitiço' do amor, em Marília 2010 (Nikon D70)


O preparo do 'feitiço' do amor feito com muito carinho e atenção em Marília 2010 (Nikon D 70)

          Com características claramente pedagógicas e de manutenção de tradições, e ainda de defesa da liberdade de opinião e de expressão, o Curso de Cultura Africana foi ministrado com muita competência pelo  Tata Nkassumbirê Ari e se transformou em um momento ímpar na recente cultura popular mariliense.


 Tata Nkassumbirê Ari demonstrando trabalho com ervas e gestos no Centro de Cultura Africana e Marília 2010 (Nikon D70)

         Fui um privilegiado por ter participado dessa primeira aula do  Tata Nkassumbirê Ari e de ter visto tudo aquilo que foi ensinado naquele domingo à tarde, com uma Marília quente e chuvosa, típica de dezembo. Tenho minha fé e convicções, porém, também fiquei bem atento quando o 'feitiço' do amor foi ensinado.





segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Igrejas

     Marília possui várias igrejas. Duas delas são relacionadas diretamente com a fundação do município. Estou falando das igrejas são Bento e Santo Antônio. São construções que datam da década de 30 e 40 do século XX e apresentam arquitetura mista, do barroco ao gótico, em um estilo "local". Essas igrejas foram batizadas com nomes de duas figuras ilustres da cidade com o objetivo de homenageá-las e de perpetuar suas respectivas memórias: Antônio Pereira e Bento de Abreu.

Janelas da Igreja São Bento de Marília em 2003 (Leica e tri-X)

     Desde quando eu me conheço por gente , tenho na memória os domingos ensolarados com as missas e o fiéis se concentrando às portas dessas igrejas. Todos bem vestidos e em família. Os sinos badalando e avisando os marilienses a hora do dia. As torres altas com diversas cruzes. Como sou de família Espírita, nunca freqüentei esses locais quando criança ou adolescente. Fui apenas algumas poucas vezes nessas igrejas. A curiosidade me levou a entrar em uma delas com a Leica pendurada no pescoço e a vontade de registrar aspectos que chamassem a atenção. Conscientemente, fugi dos vitrais, dos altares, da arte sacra, enfim dos "clichês". Pensava em fotografar uma igreja sem "cara" de igreja, isto é, outros aspectos menos explorados em seu interior, alimentando a esperança de encontrar algo além...

Interior da igreja São Bento em Marília, 2003 (Leica e tri-X)

Na sacristia e deparei com uma estátua do Cristo crucificado. Não consegui tirar os olhos dela. Fui informado que essa imagem era levada em procissões há anos até sofrer um queda que a quebrou em vários pedaços. Posteriormente coladas, essas partes reconstruiram a estátua que foi guardada em um armário. Senti um carinho pela história da estátua e resolvi fotografá-la. Imaginei as dezesnas de pessoas que a sustentarm nas mãos para cumprir suas "missões". Lembrei-me de certas imagens do filme "Marcelino Pão e Vinho" (que aliás influenciou na escolha do meu nome), obra espanhola de 1955 baseado em livro homônimo escrito por José Maria Sánches Silva. Nesse filme, um menino conversa com Deus através de uma grande imagem do Cristo na cruz.


Detalhe da estátua do Cristo presente na igreja São Bento, 2003 (Leica - tri-X)

Resolvi fotografar a estátua em pedaços, como foi o seu destino há alguns anos...


Detalhe da estátua do Cristo presente na igreja São Bento, 2003 (Leica - tri-X)

Fiz certa vez a exposição desses "pedaços" do Cristo para várias pessoas e alguns espaços da cidade. Em um desses lugares, o público foi feito de crianças. Uma dessas crianças viu em uma das imagens uma bailarina com os pés machucados. Outra criança viu nas imagens um homem magro, pobre e sofrido que precisava se alimentar melhor.

Os pés do Cristo vistos como os pés de uma bailarina por uma criança, 2003 (Leica e tri-X)

O ícone mundial, desconstruido pela fotografia e reconstruido aos olhos das crianças, tomou novas formas e significados. Como é "danada"essa tal de fotografia, hein?!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ferro velho...

A cidade é um sítio arqueológico. São várias camadas do tempo incrustadas na paisagem urbana. Várias camadas de tinta nas paredes das casas, várias construções uma sobre outras e alguns lugares que são verdadeiras relíquias. O “ferro velho” (depósito de ferragens produto do desmonte de máquinas) é local privilegiado da história.

Detalhe de camionete Chevrollet 'anos 50' em ferro velho de Marília, 2010 (Nikon D70)

Notei em um ‘ferro velho’, em meio aos restos do passado, que as memórias brotam dos pedaços esquecidos pelo “progresso da sociedade”. A história quase sempre é ingrata. Ônibus, caminhões e tratores, úteis em momentos do ontem, que embalaram sonhos de vida, realizações da economia, pequenas histórias familiares e grandes momentos do país, se transformaram em ferros retorcidos, oxidados e desfigurados em meio ao mato e ao desmonte para o mercado de peças usadas.

Detalhe de caminhão da Ford "anos 50"
em ferro velho de Marília, 2010 (Nikon D70)

O Brasil há uns 50 anos era embalado pelo governo JK (‘que substituiu o burro pelo jeep’), pelos anos dourados do automobilismo em nosso país. Os motores transportavam de tudo e todos em novas estradas de rodagem para a realização dos “50 anos em 5”. Ao lado da recém construída Brasília, a pequena Marília (interior de SP) também ‘progredia’ sobre as carrocerias dos Fords e Chevrollets  do Brasil. Minha cidade, agro-industrial por “vocação”, crescia com os tratores nas plantações de amendoin, café e algodão. Marília chegou a ser a maior produtora de café, amendoim e algodão de São Paulo nos anos 50.


Trator da Ford 1955, há anos parado e oxidadando em ferro velho de Marília, 2010 (Nikon D70)

Na década de 50, o ônibus que levava as pessoas à Rosália (cidade aqui perto) era símbolo do sucesso da era do automóvel no Brasil. A carroceria era fabricada em Marília e, com um chassi da Mercedes Bens, era ícone do progresso. Esse ônibus servia a Viação Brambilla, nascida aqui e que hoje não existe mais. O Mercedez “cara chata” fez milhares de viagens na estrada asfaltada (novidade) entre essas duas cidades, deixando a antiga jardineira (ônibus com carroceria aberta) no passado. Uma carcaça desse referido ônibus também jaz no “ferro velho” que visitei.

Carroceria de Mercedez "cara chata" da Viação Brambilla em ferro velho, 2010 (Nikon D70)


Detalhe do Mercedez "cara chata" da Viação Brambilla em ferro velho, 2010 (Nikon D70)

O anos dourados também foram vividos por aqui. O atropelo do passar do tempo, apagou tudo isso bem rápido e as memórias desses fatos ‘jazem’ nos ferros e aços oxidados e retorcidos dos 'ferros velhos'.
Detalhe de trator Massey e Ferguson dos "anos 50" em ferro velho de Marília, 2010 (Nikon D70)

Os rebites eram uma das marcas das carrocerias de caminhões e dos ônibus dos anos 50. Eu sempre tentava contá-los na espera da partida do ônibus da rodoviária nos anos 70, época na qual esses antigos “carros” ainda serviam as viações daqui. A contagem era em vão pois, quando estava quase no término, era interrompido pela partida do ônibus ou por minha mãe me puxando para embarcar. O Brambilla do 'ferro velho' tinha todos os rebites. Contei calmamente e descobri: 259 rebites!!! Finalmente os contei todos!!

Traseira do Mercedez da Brambilla com seus rebites aparentes, 2010 (Nikon D70)

Detalhe de caminhão Chevrollet 1958, 2010 (Nikon D70)

Estou ficando velho mesmo...a "roda da história" anda sobre nós que envellecemos e sobre os trabalhadores que fizeram essas máquinas.

Roda do Mercedez "cara chata" dos anos 50 em ferro velho de Marília, 2010 (Nikon D70)





domingo, 24 de outubro de 2010

Férias sem compromisso...

Certa vez abandonei a prática sistemática da fotografia, vendi meu equipamento (inclusive o laboratório) e fiquei alguns anos sem câmera. Decidi parar de olhar o mundo com o condicionamento fotográfico e me ‘descontaminar’ das imagens. Continuei fotografando de forma descompromissada a família, fazendo imagens domésticas e sem muita preocupação. Nessa época fui à praia de São Vicente e carreguei na mala a ‘maquininha’ da família, uma espécie de “Olympus Trip” digital, uma Sony Cibershot que era menor que a palma da minha mão, toda automática sem muitos recursos.

Praia de S. Vicente, 2008 / Sony Cibershot

Andando pelo orla marítima de Santos, curti a paisagem, as pessoas andando, os petiscos da praia, o futebol de areia (só observando) e, de repente, sem obrigação de fazer uma bela imagem, apontava a Sony para diversos lugares e registrava as minhas impressões...

Edifícios da orla marítima de Santos, 2008 / Sony Cibershot

Era um tal de fotografar minha esposa, minha sogra em frente de monumentos, caminhando na praia, à noite com as luzes dos postes, detalhe aqui e detalhes ali e, de repente, uma imagem um pouco mais interessante aparecia...

Monumento do marco inicial português na cidade de S. Vicente, 2008 / Sony Cibershot

Dentro da pousada na qual fiquei para o devido descando após um dia inteiro de praia e de seguir a família nos museus, jardins e no comércio local, um quadro de origem candomblé me chamou a atenção...

Dentro da pousada, S. Vicente 2008 / Sony Cibershot

Aliás, a pousada era bem simples mas aconchegante. Bom café da manhã e o melhor de tudo era não ter que se precupar em cozinhar e depois lavar louça...

Detalhe do interior de pousada em S. Vicente, 2008 / Sony Cibershot

Antes de ir embora já guardando as coisas na mala, carregando lembranças e o descanso de alguns dias de repouso em família, ainda deu tempo para fazer uma última 'fotinha' e de ter a vontade de voltar a fotografar, fato que ocorreu algum tempo depois...felizmente!

Edifícios ao lado da praia em S. Vicente / 2008 Sony Cibershot






sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Escola...

Quem não se lembra de sua época de escola primária? Dos amigos à merenda, dos professores aos jogos de bola, tudo isso e mais um pouco. São boas lembranças. As aulas aprendidas, os exemplos dos professores, as primeiras paqueras, as traquinagens os puxões de orelhas, os boletins e a aprovação final.

Crianças de uma Escola Municipal de Marília, 2010 (Nikon D70)

Sempre tive medo dos seminários ( ou leituras ) que tínhamos que apresentar na frente de todos os colegas. Medo de gaguejar, de errar um exercício do quadro negro, de atender as expectativas do professor...mas me enchia de orgulho quando era elogiado pela professora.

Aluno de escola primária de Marília, 2010 (Nikon D70)

Minha cabeça sempre me fazia viajar para bem longe da escola em busca daquilo apresentado nas aulas de Geografia e de História, em busca de fugir dos sempre difíceis exercícios de Matemática ou imaginando como seria o recreio...

Aluno de escola primária de Marília, 2010 (Nikon D70)


As fileiras das carteiras, a posição das colegas e uma amiguinha em especial...há lembranças que não se apagam...

Crianças de uma Escola Municipal de Marília, 2010 (Nikon D70)



quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Retratos...

O retrato nunca foi o meu tipo de fotografia predileto. Aliás, não gosto muito de fazer fotos de pessoas, isto é, tendo nelas os elementos principais. Talvez seja devido a uma timidez. Talvez seja por eu pensar nunca ter feito uma imagem de rosto que realmente me agradasse. De qualquer forma, os retratos nunca foram o meu ‘forte’ e, portanto, fiz pouco disso em minha pequena história como fotógrafo.

Amiga fotografada em 2004 com Leica e tri-X

Certa vez planejei fazer um inventário fotográfico a respeito de personagens marilienses. Optei por fotografar algumas pessoas que fizeram de suas vidas algo original, desenvolvendo atividades artísticas aqui na cidade. Selecionei aqueles que utilizaram os meios de comunicação como o cinema, a pintura, a fotografia o rádio, teatro e os jornais.

Antigos mantenedores da Sta. Casa de Marília em 2006 (Leica e tri-X)

Tive contato com pessoas ilustres e com belas histórias profissionais e de vida, com muita luta e realizadas em Marília. Entre essas pessoas, fotografei o Sr. Orozimbo, mestre dos primórdios do cinema em minha cidade. Ele realizou o primeiro filme tendo como “palco” a cidade de Marília do anos 70. Foi um curta-mertagem feito em película 8mm chamado de “Interlúdio”. Hoje o Sr. Orozimbo não está mais vivendo conosco. Penso que fui uma pessoa privilegiada por ter conhecido e assistido o referido filme.

Orozimbo e sua Canon 8mm com a qual filmou "Interlúdio", imagem de 2002 (Canon e tri-X)


Fotografei o grande mestre da história da fotografia em Marília o Sr. Sebastião Leme e a memorialista  Rosalina Tanuri. Tentei nesses retratos  ser o mais simples possível,  pouco acrescentando nessas grandes figuras. Era apenas as imagens deles e de seus instrumentos de comunicação. Perguntava para eles como queriam ser fotografados com seus instrumentos. Dito isso e a imagem aparecia...era só enquadrar e regular a máquina...

Rosalina Tanuri analisando uma foto antiga em 2002 (Canon e tri-X)


Fotografei, algum tempo mais tarde, um músico das noites marilienses. A história desse artista se confunde com a história da boemia de Marília, de seus barzinhos, das galeras e das paqueras sempre com a trilha sonora de Chico de Assis...

Chico de Assis e seu inseparável violão em 2006 (Leica e ilford)


Chico gravou um CD e utilizou as minhas fotos para ilustrá-lo. Fiquei muito orgulhoso. Fiz também alguns retratos a pedido de alguns amigos e amigas. Durantes longas e divertidas conversas com essas pessoas, pegava a Leica da bolsa (já com o tri-X e regulada) e fotografava...


Sávia fotografada em 2004 com Leica e neopan

Mas como eu ia dizendo que não gosto dos retratos...








domingo, 26 de setembro de 2010

Favelas

Marília é uma das cidades com melhor qualidade de vida do interior de São Paulo. Estatisticamente, tem bons índices naquilo que consideramos adequado para a população. Sabemos disso consultando pesquisas de institutos econômicos que publicam seus dados em revistas etc. Minha cidade já teve os slogans “Capital Nacional do Alimento” e “Cidade Amiga da Criança”. Porém, há outras realidades que não aparecem nesse conjunto de dados e, muito menos, no imaginário da população que desconhece (ou quer desconhecer), por exemplo, a presença de favelas por aqui.

Detalhe dos barracos presentes no bairro Argolo Ferrão em Marília, 2003 (Leica e tri-X)


Tive acesso mais profundo a essa realidade quando fotografei alguns bairros da cidade que estavam em processo de degradação sócio-econômica, enfim, em processo de ‘favelamento’ em 2003. Participando de uma pesquisa da UNESP em Sociologia Urbana, fotografei alguns aspectos dessas favelas para montar um mapa de exclusão social em Marília.


Detalhe de um casebre no bairro Vila Barros em Marília, 2003 (Leica e tri-X)

Caminhei junto com alguns pesquisadores que há muito andavam pelas vielas dos bairros Argolo Ferrão, Vila Barros entre outros, conversando com os moradores, investigando as estruturas sociais daqueles locais. Carregava uma Leica e alguns rolos de filme kodak tri-X, registrando um pouco das pessoas e das condições de moradia e da ocupação do ambiente.

Interior de barraco na Vila Barros, 2003 (Leica e tri-X)


Conheci pessoas batalhadoras e que ainda tinham sonhos de vida e esperança de felicidade, apesar de viverem na duríssima realidade de péssimas condições higiênicas, materiais e ambientais. Em alguns cidadãos dava para perceber o brilho nos olhos e a força de verdadeiras fortalezas...

Morador da Vila Barros reaproveitando tijolos velhos, 2003 (Leica e tri-X)

A luz que vinha dos relatos de vida dessas pessoas se confundia com as belas luzes que existiam em alguns barracos enfeitando as simples paredes de madeira e papelão.

Moradora da Vila Barros em Marília, 2003 (Leica e tri-X)


A favela não é só o lugar da criminalidade, da degradação e da miséria, é também o lugar da solidariedade e da família, instituição social que ainda tenta resistir a todos os ataques da exclusão sócio-econômica.

Esgoto 'a céu aberto' em favela de Marília, 2003 (leica e tri-X)

Tentei fazer uma exposição das imagens que fiz em um shopping center de Marília, mas não tive sucesso. Minhas fotos foram retiradas após um abaixo assinado dos logistas que se consideraram prejudicados com a ‘estética da pobreza’. Segundo eles, a exposição não estimularia as visitas e as compras nas lojas...realmente, há setores da sociedade mariliense que querem continuar não conhecendo a ‘cidade dos índios’ que não aparece na revista ‘DMarília’. Isso é compreensível... Marília ainda exclui muita gente.

Moradora de favela que, com uma máquina de escrever, produz currículos para moradores tentarem empregos, 2003 (Leica e tri-X)



terça-feira, 21 de setembro de 2010

Hospitais

Fotografei dois hospitais de minha cidade em um projeto de pesquisa da Unesp em 2008. As pesquisas estavam voltadas para a identificação dos aspectos sócio-históricos dessas instituições bem como para o reconhecimento de sua arquitetura. Era uma equipe de poucos profissionais e eu era o fotógrafo...

Hospital das Clínicas de Marília (Nikon D40s)


Essa foi a primeira oportunidade que tive de fotografar com equipamento digital. Estava acostumado com filmes e Leica (uma câmera de visor pequeno e direto e sem recursos eletrônicos) e foi colocado em minha mão uma Nikon D40s. No começo eu ‘apanhei’ um pouco da máquina, mas obtive ajuda de outra fotógrafa (Paula Mello) que trabalhou comigo no registro do Hospital das Clínicas (hospital público) ...

 Hospital das Clínicas de Marília (Nikon D40s)


Optei por não fotografar os problemas do HC (aliás, não foi permitido o acesso a algumas alas do hospital). Dediquei minhas imagens a outros aspectos fugindo do enfoque jornalístico e trilhando outros caminhos...


Hospital das Clínicas de Marília (Nikon D40s)

Basicamente observei a arquitetura em suas relações com as pessoas. As escadas são um elemento muito presente nos hospitais. Sempre há uma delas no final dos corredores com médicos e enfermeiros subindo e descendo a todo o momento...

Hospital das Clínicas de Marília (Nikon D40s)


Por falar em corredores, o outro hospital que fotografei foi a Santa Casa de Misericórdia. Lá, os corredores sempre ‘bem freqüentados’ por enfermeiros e médicos prontos para atender seus pacientes, são uma amostra da dinâmica do local. Porém, os corredores escuros das alas desativadas são mais marcantes do aspecto geral desse hospital : antigo, nostálgico e elegante.

Santa Casa de Misericórdia de Marília (Leica e tri-X)


A Santa Casa foi o último ensaio que fiz com filme e Leica. Alguns meses depois de realizadas as fotos eu abandonei a prática, retornando a fotografar  há poucos dias. Fotografar essa construção dos anos 30 do século XX foi para mim uma espécie de despedida...


Santa Casa de Misericórdia de Marília (Leica e tri-X)

Nesses locais, temos a chance de conversar um pouco com as pessoas que ali trabalham e ouvindo as suas histórias notamos o como os funcionários dos hospitais, apesar de todas as dificuldades enfrentadas no dia a dia, são vencedores e verdadeiros samaritanos...


Cozinheiras do HC de Marília (Nikon D40s)

São pessoas simples que trabalham em longas jornadas realizando de maneira responsável suas atribuições...

Atendente do HC de Marília (Nikon D40s)

Nos hospitais de Marília presenciei os dramas e a solidariedade do ser humano. Dores misturadas com afeto, auxílio misturado com desespero, esperança misturada com resignação. Tudo isso acontecendo sob as paredes e teto dessas arquiteturas voltadas para o cuidado das pessoas. São exemplos disso o HC e seu pronto socorro...

 Pronto Socorro do HC de Marília (Nikon D40s)

e a Santa Casa e sua entrada principal...

Entrada principal da Sta Casa de Marília (Leica e tri-X)

O HC, uma construção dos anos 60, e a Sta Casa, construída nos anos 30, são duas formas de arquitetura hospitalar que marcam a paisagem de minha cidade, sintetizando dois projetos de saúde pública na história de Marília e sendo palco de milhares de episódios reunindo pessoas comuns na luta pela vida. Eu mesmo já vivi inúmeras histórias ali.